BRASÍLIA — O embaixador da Suíça no Brasil, André Regli, afirma que a imagem de seu país como um lugar seguro para se guardar dinheiro de origem não declarada é parte do passado. Desde 2008, sob pressão do G-20, a Suíça mudou as regras de sigilo bancário e decidiu colaborar com investigações criminais sobre corrupção. O exemplo mais eloquente é na Operação Lava-Jato. Quem tem dinheiro sujo pode tentar buscar refúgio em qualquer outro lugar, menos em bancos suíços, afirma Regli, em entrevista exclusiva ao GLOBO.
Muitos brasileiros viam a Suíça como um bom lugar para se guardar dinheiro, inclusive de origem ilegal. O que se vê agora é que a Suíça tem colaborado com a Lava-Jato. Como o senhor explica essa mudança?
Hoje em dia em novelas brasileiras, o dinheiro sujo, as pedras preciosas sempre vão para a Suíça. Na mente de muita gente, essa ideia de que a Suíça guarda o dinheiro sujo é muito forte. A Suíça é uma praça financeira que, como outras, aproveitaram a época do segredo bancário. Eu diria que se (dinheiro sem origem declarada) foi para a Suíça, não foi por causa do segredo bancário, mas porque é um país estável politicamente. Pode confiar: esse dinheiro sempre será seu.
As autoridades suíças têm tido envolvimento direto na Lava-Jato. Por que, ao que tudo indica, a Suíça “entrou de sola” nessa investigação?
Porque a Suíça não quer e não precisa de dinheiro sujo. O governo suíço decidiu que vamos continuar como uma boa praça financeira, com bons serviços, mas não queremos mais esse dinheiro sujo. Por isso, adaptamos toda a legislação, terminando com o sigilo bancário em 2009. Negociamos acordos bilaterais com a maioria dos países para melhorar a transparência.
Nesses casos em que houve colaboração da Suíça, qual o mais significativo? Seria aquele que resultou no processo contra o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha?
Tem esse (de Eduardo Cunha), tem o caso do Paulo Roberto Costa (ex-diretor da Petrobras), que a imprensa já revelou. Esses são os dois grandes casos. Tem o caso da empresa Odebrecht.
Como estão essas investigações na Suíça?
Não posso entrar em detalhes sobre uma investigação aberta. Mas, como o caso de lavagem de dinheiro é um delito oficial, a Suíça fará os inquéritos próprios.
Vai fazer ou já está fazendo?
Está fazendo.
A informação que temos é que a Suíça queria transformar essa investigação num caso exemplar.
Sem dúvida. Quando o procurador-geral Michael Lauber veio aqui, há um ano, falou claramente que a gente não quer mais dinheiro sujo na Suíça. Por isso, a Suíça colabora. Posso dizer que a colaboração é muito boa, eficaz entre as instituições jurídicas e as procuradorias gerais suíça e brasileira.
A Suíça participou do acordo de leniência da Odebrecht. Qual a explicação para essa participação?
A Suíça participou porque há indícios de que a Odebrecht tem contas na Suíça.
O que diria a um político que ainda acha que pode guardar dinheiro na Suíça?
Se ele declara o dinheiro ao Fisco brasileiro, pode levá-lo à Suíça e receberá excelentes serviços. Se não, coloque o dinheiro em outro lugar.